Não era o “cenáculo”(Atos 1.13), mas parecia ser o lugar onde Cristo teve a última ceia com os seus discípulos , a casa em que pela primeira vez tive contato com os irmãos da Igreja em Vitória através de uma reunião de grupo familiar, a residência dos irmãos Nourival Cardoso e Marizete, em dezembro de 1976.

Surpreso com a simplicidade do ambiente, pois até então, na minha experiência cristã, tudo o que envolvia a Deus e ao culto ao seu nome era sempre feito em ambiente de luxo e pomposidade. Não podia sequer imaginar que, em um lar , doce lar, pudesse um grupo de pessoas expressar louvores ao nosso Criador, compartilhar da Sua Palavra viva, abraçar e dar-se em abraços, sorrir, partir o pão, em momentos até então só verdadeiramente vívidos pelos irmãos da Igreja primitiva conforme registra Atos 2.46-47.

A reunião de grupo familiar não poderia ter nascido no coração vaidoso do homem, e sim no coração daquele que instituiu a família, o Senhor dos exércitos, como podemos ver em Atos 2.46.“ Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam o pão de casa em casa, e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração”. Neste texto vemos os dois tipos de reunião que havia na igreja local em Jerusalém:
No templo – Os discípulos iam ao templo nas horas de oração ou para as reuniões públicas. Em tal tipo de reunião as pessoas seriam em maior número, não havendo plena comunhão entre elas.
De casa em casa  A expressão “de casa em casa” demonstra mais uma vez que Deus é estratégico, fazendo com que o grande número de pessoas salvas no dia de pentecostes, num total de quase 3000, pudesse estreitar relacionamentos, partir o pão e aprender a viver o dia a dia da igreja.

A maneira mais prática de estreitar o relacionamento com os irmãos, isto é, de viver a verdadeira koinonia (comunhão), é através da reunião do grupo familiar, no qual todos se conhecem e o amor pode fluir nos momentos de reuniões nas visitas entre irmãos e amigos interessados no evangelho.

De característica muito simples, a reunião de um grupo familiar é um encontro dos salvos por Cristo com pessoas ainda não salvas, sendo excelente oportunidade para evangelização e salvação desses amigos que ainda estão perdidos sem Cristo. O grupo familiar torna-se uma “clínica” para tratamento das doenças psíquicas e espirituais, por ser ambiente de amor e de testemunho de Jesus Cristo, o Médico dos médicos. Em ambiente de família as carências são supridas; o amor é desenvolvido e o Corpo de Cristo é edificado em unidade, como diz Rm.12.5 : “Assim também vós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros”.

Uns chegando alegres, outros cabisbaixos e arredios. Cumprimentos e abraços são liberados espontaneamente . É neste ambiente de tantas diversidades culturais, raciais, econômicas e familiares que nos vemos face a face, olhando dentro dos olhos, uns dos outros, sentindo o cheiro de suor de alguns que chegam de seus trabalhos, cheiro de ovelhas que querem ser apascentadas e encontrar na reunião refrigério para suas almas. E o mover do Espírito começa a envolver cada participante do grupo através do louvor, do compartilhar e do partir do pão.

Rogo ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que sejamos iluminados mais e mais para que o exemplo abaixo não aconteça no viver da igreja.
Assentada e com hábeis mãos fazendo crochê, indaguei a uma irmã de certo grupo denominacional, como estava o seu marido. Ela, então, respondeu-me:
– “ Continua indo de mal a pior. Não tem mais jeito não! Está bebendo demais.”
– E a igreja, o que tem feito para ajudá-la?
– “ Nada. O meu Pastor nunca estendeu a mão para mim, não sabe nem que eu existo.”
– E os demais irmãos que se reúnem com você, não a ajudam ?
– “Que nada, cada um está preocupado consigo mesmo, e assim a vida vai indo! ”
– Prometo orar por você, disse-lhe, ao encerrarmos a nossa conversa, pois estávamos num ambiente de trabalho e ela fazia a sua hora de almoço.
No diálogo com esta jovem Senhora, vemos o evangelho do homem sem a cruz de Cristo, produzindo morte, martirizando os irmãos, enquanto que na correta visão do viver da igreja, a Cruz deve ser o ponto central de todos os nossos propósitos, para que possamos viver nos grupos familiares o mesmo espírito vivido pelos irmãos das igrejas primitivas. “Diariamente eles estavam juntos no templo, reuniam-se em grupos pequenos de casa em casa para a comunhão e participavam das suas refeições com grande alegria e gratidão, louvando a Deus. A cidade inteira tinha simpatia por eles e cada dia o próprio Senhor acrescentava à igreja todos os que iam sendo salvos.” (Atos 2.45-46) – Bíblia viva.

O livro de Atos nos dá exemplos de reuniões feitas nas casas, como ocorreu na casa de Lídia (Atos 16.14-15 e 40) e na casa do carcereiro de Filipos (At.16.30-34).

A igreja está numa ou mais casas. Mas a igreja não é igreja nas casas. A igreja é da localidade, quer se reúna numa ou mais casas.
Enfim, Deus nos faça estratégicos como Ele quer que sejamos e edifiquemos a Sua Igreja pela edificação dos mais legítimos grupos familiares”…. .

Somos um corpo em Cristo. Isto tem algum sentido para você?

Deronis F. de Souza