A unidade deve viver sem a presença da uniformidade. Caso a unidade se veja ladeada pela uniformidade, esta acabará danificando a unidade. A uniformidade, como o nome o diz, é vestir os mais diferentes membros de uma comunidade de um mesmo modo. Assim, o uniforme é uma vestimenta imposta, cada aluno compra a roupagem que lhe foi determinada. Embora, um bom aluno chegue a uma escola para ter suas aulas, mas sem o uniforme aprovado, acabará sendo rejeitado. Por que? Porque não traz sobre sua carne peças de roupa, que de fato, nada têm a ver com o seu caráter interno, de mau, médio ou bom aluno. A unidade apenas pode ser real sem a uniformidade. O Universo é criação de Deus. Nosso corpo é criação de Deus. A igreja é criação de Deus. Seja no corpo universal; seja no corpo humano; seja no corpo eclesiástico do Novo Testamento, em cada um desses corpos há unidade, embora também haja diversidade de membros. A unidade de ação para os membros do corpo universal ou humano ou eclesiástico é coisa desconhecida das Escrituras. Cada membro age de modo consoante à sua natureza e circunstâncias. Não pode o corpo funcionar como ouvido ou nariz ou olho ou pé. Se todo corpo funcionasse como olho, onde ficaria o pé? Não! A unidade do corpo se evidencia na diversidade de operação de seus membros.

Unidade é coisa una, única, singular; coisa que se expressa em união.

Uniformidade é a qualidade do que é uniforme, do que é monótono, do que só tem uma forma, do que é invariável. Paulo falou da unidade na diversidade em I Co. 12:12-31. Paulo diz: “O corpo é um”, mas “tem muitos membros”. Estes membros “constituem um só corpo”. No Corpo de Cristo, que é único, entra uma diversidade de membros, “quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres”, todos, bebendo de “um só Espírito”, entram no único corpo, o de Cristo, a Igreja.

Há, portanto, unidade do corpo, mas há também, diversidade de membros. Por natureza, o corpo age em unidade, enquanto respeita a diversidade da operação de cada membro em particular. E todos os membros, enfim, cooperam, tendo em vista a manutenção da integridade final da unidade do corpo. Esse é o pensamento eclesiológico de Paulo, que defendeu a unidade do corpo, mas respeitou a diversidade da cooperação dos seus membros, ficando, assim, relegada ao esquecimento a intromissão prejudicial da uniformidade nos caminhos da unidade.

O problema entre unidade e diversidade é este: A diversidade tenta colocar a unidade a seu serviço, fazendo com que a unidade funcione em uniformidade: Tudo igualzinho. Sendo isso impossível, então cada aspecto natural, bom e justo da inúmera diversidade pode separar-se da unidade, impondo a uniformidade. Isso é um erro contra o corpo, por que, para isso, o corpo é seccionado, mutilado, há a separação (háiresis) do corpo. Isso mata o corpo. Que diz a história sobre o corpo de Tiradentes? Esquartejaram o seu corpo e pedaços dele foram enviados para várias partes, “ A cabeça, dentro de uma gaiola, apodreceu no alto de um poste em Vila Rica. Os quartos ficaram expostos ao longo do Caminho Novo”, caminho entre Vila Rica e Rio de Janeiro, para mostrar que o nosso mártir estava morto. Ora, de fato, havendo separação dos membros do corpo, tudo morre: Morre o corpo. Morre os membros do corpo. Isso foi o que aconteceu. Ninguém, de bom senso, pode dizer que a igreja hoje é a igreja dos áureos tempos dos apóstolos, embora lá mesmo ( e não podia ser doutro modo, pois satanás não dá trégua à luta pela divisão) já houvesse o lançamento das sementes do divisionismo que hoje, no século XX, é tão satanicamente mantido, sendo planta venenosa germinando e operando para morte, para morte do corpo de Cristo, a Igreja. As divisões hoje são justificadas como formas de Deus agir para ganhar o mundo, a “pátria para Cristo”, enquanto aos nossos olhos, estatisticamente mostrado, o mundo vai sendo perdido e caminhando para a perdição. Por que? Porque do Corpo Vivo de Cristo desapareceu a plena e viva ação; porque esse Corpo foi esquartejado pelos senhores teólogos e eclesiólogos e cada fragmento de Corpo chamado, cada um, igreja fulana, igreja sicrana, igreja beltrana, etc., etc., etc., embora possa parecer manifestar certa uniformidade, não mostra vida plena, mas são evidentes os sinais da morte, por causa da divisão.

E como pode ser ganho o mundo? Por que homens, em número imenso, foram salvos na era apostólica? Porque havia unidade do Corpo expresso nas localidades, isto é, em cada local, havia uma e uma única igreja; assim, embora os membros fossem aos milhares, em Jerusalém, só havia uma única igreja, que por isso mesmo estava viva, não tendo sido esquartejada, ainda, em pedaços mortos, denominados, igreja, igreja aquela.
Não! Fora com a mania de buscar dividir a Igreja sob pretextos vários, por exemplo: pela ênfase em certos métodos, em certas doutrinas “secundárias”, pelo desejo de se estabelecer a uniformidade.
O que acontece é isso: Alguém quer que a igreja seja igualzinha em cada localidade. Que bom! Dizem. Mas é impossível, pois a igreja é um corpo e como tal, como pode ser igualzinho, com uniformidade de conduta? Então, uns partem para fundar a “igreja” fulana que crê isso e aquilo; outros combinando, separam-se e partem, sob o princípio da uniformidade e estabelecem a “igreja” sicrana que já tem seu estatuto e fé diferentes da “igreja” fulana. Outros, discordando dos dois grupos anteriores, formam a “igreja” beltrana. Essa sim. Convictos, bradam: Nós cremos isso, oramos assim, cantamos desse modo, cremos isso e mais aquilo. Agora vamos ganhar o mundo para Cristo.

A essa altura, o mundo olha as igrejas, isto é, as ex-igrejas do Novo Testamento e zombando delas segue seu caminho de morte, pois as “igrejas” que estão sob mortalhas do divisionismo, pelo “assassinato” cometido por aqueles que mais deveriam zelar pela Vida do corpo de Cristo, não podem falar ao mundo ávido por conhecer uma igreja cheia da poderosa graça e da unidade bendita.

Então, que é unidade da igreja? É aquela atitude que se manifesta em se receber, sem discussão, todo aquele que Deus recebeu por Seu. Por favor, leia Rm. 14:1-3.

Se lá no céu não vai haver divisão, por que a mania insana de estabelecê-la aqui na terra? Deus, o perfeito, recebe todos os crentes fiéis. Por que nós, imperfeitos, não recebemos aqueles que Deus recebeu? Pretendamos só o que Deus pretendeu: Uma igreja unida, não uniforme, igreja cujos membros vivam na unidade da Vida de Cristo, expressando não o mau cheiro da uniformidade, mas sendo vista como luz nas trevas e como sal integral neste mundo corrompido.
Na união de filhos de Deus, embora sem os uniformes multicoloridos dos ismos sem fim, retornemos, pela graça de Deus, à fonte de onde fomos cortados pelos homens. Retornados à fonte, havemos de ver jorrar águas vivas da unidade em Deus por Cristo no Espírito Santo em nós.

Waltir Pereria Da Silva